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quinta-feira, 12 de julho de 2012


O pensamento final
Juliana R. Duarte Turma 80
Ainda me recordo de quando era jovem,infelizmente ainda me lembro de cada parte da minha juventude, as lembranças não me deixam querem me envergonhar, me atormentar ou simplesmente me trazer mais culpa...
Por mais que eu tente ocupar minha mente, não consigo, me recordo de cada palavra que você me falou, de cada frase das cartas que ansiosamente eu esperava chegar pelo correio, de cada noite que chorei de saudade de você, e de cada centímetro que me distanciei das pessoas que me amavam de verdade.
Infelizmente me lembro de cada feriado, nos quais pegava o pouco que minha mãe ganhava trabalhando como doméstica, para ir viajar ao seu encontro, e cada vez que voltava via o rosto dela e seu olhar que me dizia tudo que eu não queria saber. Cheguei a pensar que minha família estava conspirando contra minha felicidade e por este motivo disse a várias pessoas, meus amigos ou simplesmente aos que tentavam me dar um conselho, que as odiava e muitas vezes foi o que senti. Até que um dia o ódio foi tão grande dentro de mim, que deixei tudo para trás, só o que importava era ficar perto de você.
Por anos você me fez juras e por anos acreditei em todas elas.
Infelizmente eu me lembro do dia em que quis algo mais sério, e você sem exitar me virou as costas e foi embora, me deixou perdida, sem saber para onde correr, a realidade é muito difícil de ser enfrentada, e num ato desesperada voltei a minha cidade natal, de onde nunca deveria ter saído, pensando em encontrar amor e consolo. Na viagem não pude parar de pensar em tudo que havia me falado e nesse momento me senti mais envergonhada que nunca, além disso me senti um lixo e fiquei pensando com que cara chegaria a minha casa, depois de tanto tempo o que dizer?! Bom, agora não dava para voltar a trás.
Chegando lá, a pequena rua que costumava ser cheia de vida não era mais nada que um frio pedaço de asfalto com enormes prédios espalhados. Porém uma pequena casa com a pintura descascada chamou minha atenção. Imediatamente reconheci minha casa, atravessei a rua apressadamente, bati na porta, mas ninguém atendeu, epiei pela janela porém estava muito escuro, forcei a fechadura mas a porta estava fechada. A vegetação alta dos lados da casa deixava claro que ninguém havia estado por ali por muito tempo, perguntei a algumas pessoas que passavam na rua, se conheciam as pessoas que moravam na casa e onde eu poderia encontrá-las. Ninguém soube me responder, pensei que como eu e minha família havia ido para outra cidade ou outra casa, foi quando uma senhora bem idosa passou por mim, perguntei a ela sobre o paradeiro das pessoas que moravam na casa. Ela me pediu um papel e uma caneta,. Revirei a bolsa e dei a ela o que pediu. Com as mão tremulas a idosa escreveu o nome de uma rua, uma flecha apontando para a direita e um número. Sem entender perguntei a ela o que aquilo significava. A idosa me entregou as coisas e saiu cantarolando pela rua.
Desafiada fui até a rua,que a idosa havia indicado, mas tudo o que eu via eram prédios dos quais haviam comércios. Minha mãe não poderia morar em um comércio. Olhei para o lado direito da rua e vi o cemitério, embora não pudesse acreditar que algo assim tivesse acontecido entrei nele por saber que meu pai estava enterrado lá, pois ele morreu pouco antes de eu nascer. Fui até o túmulo que era o número 676, olhei o número no papel 677. Visualizei o túmulo ao lado que não era nada mais do que uma lápide cravada no chão e uma pequena capela. Na lápide estava o nome completo de minha mãe. Nesse momento desabei, caí no chão, e as lágrimas quentes que desciam pelo meu rosto frio, rasgavam minha face e dilaceravam meu coração. Naquele momento me senti a pior pessoa do mundo, os anos haviam passado e eu cega não me dei conta como eu queria que tudo isso fosse verdadeiro. Queria acordar jovem outra vez e não ter te conhecido.
Com a visão embaraçada olhei para a pequena capela que abrigava uma rosa seca e parecia estar ali há muito tempo. Embaixo do vaso no qual ela repousava tinha um pedaço de papel danificado pelo tempo, porém dava para visualizar claramente as palavras “EU TE PERDOO!”
Mas, como ela poderia me perdoar se até hoje eu não me perdoei? O que sei é que hoje no leito de um hospital, vovozinha amargurada, com o coração estraçalhado não me sinto competente e infeliz, pois sei que te amei de verdade, larguei tudo por você e hoje estou só a beira da morte, sem ninguém pra tentar amenizar minha dor com palavras carinhosas e verdadeiras, porém fiz o mesmo com a pessoa que me amou de verdade e se ela conseguiu me perdoar eu também posso perdoar você.
Sonhei com a vida e perdi a vida por um sonho.
Esse foi o pensamento final.