O
pensamento final
Juliana R.
Duarte Turma 80
Ainda
me recordo de quando era jovem,infelizmente ainda me lembro de cada
parte da minha juventude, as lembranças não me deixam querem me
envergonhar, me atormentar ou simplesmente me trazer mais culpa...
Por
mais que eu tente ocupar minha mente, não consigo, me recordo de
cada palavra que você me falou, de cada frase das cartas que
ansiosamente eu esperava chegar pelo correio, de cada noite que
chorei de saudade de você, e de cada centímetro que me distanciei
das pessoas que me amavam de verdade.
Infelizmente
me lembro de cada feriado, nos quais pegava o pouco que minha mãe
ganhava trabalhando como doméstica, para ir viajar ao seu encontro,
e cada vez que voltava via o rosto dela e seu olhar que me dizia
tudo que eu não queria saber. Cheguei a pensar que minha família
estava conspirando contra minha felicidade e por este motivo disse a
várias pessoas, meus amigos ou simplesmente aos que tentavam me dar
um conselho, que as odiava e muitas vezes foi o que senti. Até que
um dia o ódio foi tão grande dentro de mim, que deixei tudo para
trás, só o que importava era ficar perto de você.
Por
anos você me fez juras e por anos acreditei em todas elas.
Infelizmente
eu me lembro do dia em que quis algo mais sério, e você sem exitar
me virou as costas e foi embora, me deixou perdida, sem saber para
onde correr, a realidade é muito difícil de ser enfrentada, e num
ato desesperada voltei a minha cidade natal, de onde nunca deveria
ter saído, pensando em encontrar amor e consolo. Na viagem não pude
parar de pensar em tudo que havia me falado e nesse momento me senti
mais envergonhada que nunca, além disso me senti um lixo e fiquei
pensando com que cara chegaria a minha casa, depois de tanto tempo
o que dizer?! Bom, agora não dava para voltar a trás.
Chegando
lá, a pequena rua que costumava ser cheia de vida não era mais nada
que um frio pedaço de asfalto com enormes prédios espalhados.
Porém uma pequena casa com a pintura descascada chamou minha
atenção. Imediatamente reconheci minha casa, atravessei a rua
apressadamente, bati na porta, mas ninguém atendeu, epiei pela
janela porém estava muito escuro, forcei a fechadura mas a porta
estava fechada. A vegetação alta dos lados da casa deixava claro
que ninguém havia estado por ali por muito tempo, perguntei a
algumas pessoas que passavam na rua, se conheciam as pessoas que
moravam na casa e onde eu poderia encontrá-las. Ninguém soube me
responder, pensei que como eu e minha família havia ido para outra
cidade ou outra casa, foi quando uma senhora bem idosa passou por
mim, perguntei a ela sobre o paradeiro das pessoas que moravam na
casa. Ela me pediu um papel e uma caneta,. Revirei a bolsa e dei a
ela o que pediu. Com as mão tremulas a idosa escreveu o nome de uma
rua, uma flecha apontando para a direita e um número. Sem entender
perguntei a ela o que aquilo significava. A idosa me entregou as
coisas e saiu cantarolando pela rua.
Desafiada
fui até a rua,que a idosa havia indicado, mas tudo o que eu via eram
prédios dos quais haviam comércios. Minha mãe não poderia morar
em um comércio. Olhei para o lado direito da rua e vi o cemitério,
embora não pudesse acreditar que algo assim tivesse acontecido
entrei nele por saber que meu pai estava enterrado lá, pois ele
morreu pouco antes de eu nascer. Fui até o túmulo que era o número
676, olhei o número no papel 677. Visualizei o túmulo ao lado que
não era nada mais do que uma lápide cravada no chão e uma pequena
capela. Na lápide estava o nome completo de minha mãe. Nesse
momento desabei, caí no chão, e as lágrimas quentes que desciam
pelo meu rosto frio, rasgavam minha face e dilaceravam meu coração.
Naquele momento me senti a pior pessoa do mundo, os anos haviam
passado e eu cega não me dei conta como eu queria que tudo isso
fosse verdadeiro. Queria acordar jovem outra vez e não ter te
conhecido.
Com
a visão embaraçada olhei para a pequena capela que abrigava uma
rosa seca e parecia estar ali há muito tempo. Embaixo do vaso no
qual ela repousava tinha um pedaço de papel danificado pelo tempo,
porém dava para visualizar claramente as palavras “EU TE PERDOO!”
Mas,
como ela poderia me perdoar se até hoje eu não me perdoei? O que
sei é que hoje no leito de um hospital, vovozinha amargurada, com o
coração estraçalhado não me sinto competente e infeliz, pois sei
que te amei de verdade, larguei tudo por você e hoje estou só a
beira da morte, sem ninguém pra tentar amenizar minha dor com
palavras carinhosas e verdadeiras, porém fiz o mesmo com a pessoa
que me amou de verdade e se ela conseguiu me perdoar eu também posso
perdoar você.
Sonhei
com a vida e perdi a vida por um sonho.
Esse
foi o pensamento final.