Sentimento
selvagem
Noite tempestuosa. A chuva
açoitava as janelas, o vento sacudia as árvores com violência.
Raios cortavam o céu.
Ana Clara tentava dormir, mas o
som das trovoadas era intenso e estrondoso. Vivia apenas com seus
pais e com sua perversa tia naquela enorme fazenda. O coração
batia-lhe violentamente no peito.
Aqueles raios despertavam o
pânico na jovem menina.
Subitamente, um raio caiu em um
dos coqueiros que ornamentava o caminho de pedra em direção à
casa.
Ana Clara pulou para fora da
cama e correu até a janela. Olhou através do vidro salpicado pelos
pingos de chuva, e vislumbrou o enorme coqueiro em chamas.
Olhou para o céu negro e
depois para baixo. Por um momento avistou um vulto passar correndo
entre as árvores.
Pegou um fósforo e ascendeu as
três velas do castiçal.
Venceu a longa escadaria
ornamentada por um longo tapete indiano.
Atravessou o vasto salão e
chegou até a porta da frente.
Girou a maçaneta, abrindo a
porta lentamente.
A chuva havia cessado. Ana
Clara saiu de casa, enrolada em sua manta de renda.
Atravessou a varanda umedecida
e caminhou em direção ao celeiro. Viu que as portas estavam
entreabertas.
Parou. Respirou fundo e decidiu
entrar depois de alguns minutos de hesitação.
A luz das velas lançaram
enormes sombras nas paredes.
Olhou ao redor. Viu apenas dois
cavalos: o seu e de seu pai que estavam agitados.
De repente, ouviu um estranho
barulho vindo detrás do palheiro. Estremeceu. Mesmo assim, andou até
lá.
Ficou estupefata ao ver um
jovem índio deitado sobre a palha seca. Aparentava ter uns vinte
anos. Tinha os cabelos negros, compridos e a pele tigrada. Vestia um
chiripá de cor castanho, completamente encharcado. Trazia um longo
colar de sementes em volta do pescoço.
O jovem selvagem ardia em
febre. No braço esquerdo, havia um corte profundo.
Ana clara aproximou-se do índio
ferido. Ao perceber a presença da moça de cabelos loiros e
compridos, o selvagem recuou assustado para trás. Não confiava no
homem branco.
- Quem é você? - perguntou
Ana Clara.
O selvagem permaneceu calado e
amedrontado. Porém, fascinado pela beleza exuberante da menina.
- Você entende a minha língua?
O índio a fitou com certa
desconfiança. Mas respondeu com calma.
- Não queria invadir a sua
taba.
- Qual o seu nome?
- Potiguaçu.
- E o que houve com você?
- Fugi das mãos do homem
branco, que me fez prisioneiro...
O índio seguiu narrando sua
história trágica.
E assim, Ana Clara resolveu
ajudar o jovem selvagem. Trouxe-lhe comida e roupas secas.
- Por que ajuda Potiguaçu? -
perguntou o índio com desconfiança.
- Porque somos todos irmãos.
Devemos cuidar uns dos outros como se fôssemos uma mesa família.
O sorriso da moça fez o
coração do jovem selvagem disparar no peito. Por alguns minutos, os
dois jovens ficaram se entreolhando...
CRISTINE BERGER – ETAPA 04 –
EJA