Páginas

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Concorrente ao IV Concurso Escritor da Escola

Sentimento selvagem

Noite tempestuosa. A chuva açoitava as janelas, o vento sacudia as árvores com violência. Raios cortavam o céu.
Ana Clara tentava dormir, mas o som das trovoadas era intenso e estrondoso. Vivia apenas com seus pais e com sua perversa tia naquela enorme fazenda. O coração batia-lhe violentamente no peito.
Aqueles raios despertavam o pânico na jovem menina.
Subitamente, um raio caiu em um dos coqueiros que ornamentava o caminho de pedra em direção à casa.
Ana Clara pulou para fora da cama e correu até a janela. Olhou através do vidro salpicado pelos pingos de chuva, e vislumbrou o enorme coqueiro em chamas.
Olhou para o céu negro e depois para baixo. Por um momento avistou um vulto passar correndo entre as árvores.
Pegou um fósforo e ascendeu as três velas do castiçal.
Venceu a longa escadaria ornamentada por um longo tapete indiano.
Atravessou o vasto salão e chegou até a porta da frente.
Girou a maçaneta, abrindo a porta lentamente.
A chuva havia cessado. Ana Clara saiu de casa, enrolada em sua manta de renda.
Atravessou a varanda umedecida e caminhou em direção ao celeiro. Viu que as portas estavam entreabertas.
Parou. Respirou fundo e decidiu entrar depois de alguns minutos de hesitação.
A luz das velas lançaram enormes sombras nas paredes.
Olhou ao redor. Viu apenas dois cavalos: o seu e de seu pai que estavam agitados.
De repente, ouviu um estranho barulho vindo detrás do palheiro. Estremeceu. Mesmo assim, andou até lá.
Ficou estupefata ao ver um jovem índio deitado sobre a palha seca. Aparentava ter uns vinte anos. Tinha os cabelos negros, compridos e a pele tigrada. Vestia um chiripá de cor castanho, completamente encharcado. Trazia um longo colar de sementes em volta do pescoço.
O jovem selvagem ardia em febre. No braço esquerdo, havia um corte profundo.
Ana clara aproximou-se do índio ferido. Ao perceber a presença da moça de cabelos loiros e compridos, o selvagem recuou assustado para trás. Não confiava no homem branco.
- Quem é você? - perguntou Ana Clara.
O selvagem permaneceu calado e amedrontado. Porém, fascinado pela beleza exuberante da menina.
- Você entende a minha língua?
O índio a fitou com certa desconfiança. Mas respondeu com calma.
- Não queria invadir a sua taba.
- Qual o seu nome?
- Potiguaçu.
- E o que houve com você?
- Fugi das mãos do homem branco, que me fez prisioneiro...
O índio seguiu narrando sua história trágica.
E assim, Ana Clara resolveu ajudar o jovem selvagem. Trouxe-lhe comida e roupas secas.
- Por que ajuda Potiguaçu? - perguntou o índio com desconfiança.
- Porque somos todos irmãos. Devemos cuidar uns dos outros como se fôssemos uma mesa família.
O sorriso da moça fez o coração do jovem selvagem disparar no peito. Por alguns minutos, os dois jovens ficaram se entreolhando...

CRISTINE BERGER – ETAPA 04 – EJA